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  • Foto do escritorAna Wey

Trabalho ou labor?


Fonte: https://www.imdb.com/title/tt0080319/


Quando pensamos em trabalho muitas vezes a ideia de remuneração está atrelada a ele, assim como sucesso e reconhecimento, mas esse é um pensamento um tanto moderno. Trabalho, como conceito surgiu a muito tempo e nos acompanha, com nova roupagem, desde a pré-história.


A relação que o homem estabeleceu com a natureza, a elaboração de ferramentas, as novas formas de se alimentar; sempre estiveram atreladas à noção de sobrevivência e consequentemente a um continuo labor; imprimindo uma rotina, através de um trabalho de subsistência.


Atividades de caça e pesca na pré-história e posteriormente a prática da agricultura, assim como a própria escravidão na idade antiga, o feudalismo na idade medieval, a revolução industrial; para citar alguns exemplos, formam formas de labor em que a evolução do trabalho humano pôde ser vislumbrada.


O Trabalho, destinado apenas a uma parcela da sociedade, pode ser evidenciado em contextos de escravidão ao redor do mundo. Atravessando décadas; foi certamente um triste exemplo de umas das primeiras formas de exploração do trabalho alheio, em beneficio de outros, considerados privilegiados.


Na contemporaneidade, podemos dizer que a falta de trabalho que garante a sobrevivência básica de todos, traz por consequência severos graus de miséria e se apresenta como uma nova roupagem de exploração.

Mas, quando pensamos na história do trabalho humano que teve como origem a busca das necessidades biológicas, de pura sobrevivência, através do olhar da economia da subsistência, o homem produzia dentro de um ritmo marcado pela natureza. O conceito de tempo e seus ritmos eram distintos, recheados de vivencias familiares. O tempo de trabalho e sua intensidade eram distintos dos atuais.


Mas, à medida que o pensamento humano mudou, novas formas de sobrevivência e produção foram constituídas.


As revoluções industriais e tecnológicas também imprimiram novas configurações em relação ao modo como compreendemos o trabalho com suas significações e símbolos.


A ideia de direito trabalhista, por exemplo, é bastante recente e polêmica, dada a dinâmica social que aponta para as desigualdades, a exploração, os direitos e os deveres; marcando como se constituem as relações de empregado e empregador, nos diferentes âmbitos.


A sociedade contemporânea com sua dinâmica criou novas relações e direitos através de avanços nas áreas tecnológicas e das telecomunicações. Criando trabalhos informais bem como novos tipos de arranjos sociais.


Fato, é que o trabalho humano vem evoluindo de forma sistemática e acelerada e que a própria noção dos direitos trabalhistas precisa ser flexibilizada, assim como o tempo que a rege. Trabalhar não segue mais um tempo forjado na natureza ou nas máquinas; mas é um tempo que nos devora.


De acordo com a língua portuguesa; labor, apesar de ser considerado sinônimo de labuta, apresenta importantes diferenças. Labor se configuraria como uma atividade árdua, que envolveria tarefas de força, bem como trabalhos manuais; enquanto o trabalho seria uma atividade mais intelectual, baseado em métodos e estratégias.


Obviamente essa dicotomia se apresentou para reforçar a ideia de cisão entre mente e corpo, justificando assim trabalho escravo ou baixas remunerações, aos que exerciam o trabalho braçal.


Mas, segundo as concepções de Hannah Arendt, labor e trabalho não são a mesma coisa. Para a autora, a condição do labor é a própria vida, enquanto o trabalho produz um mundo artificial, não sendo considerado intrínseco a espécie humana. “O trabalho não é a essência do homem e sim uma atividade, resultado de um processo cultural”. O que se obtém através do labor deve ser consumido, já o que se fabrica com o trabalho resulta nos bens duráveis.


Costumamos dizer que nos tempos atuais, nossa identidade está muito misturada ao exercício de uma profissão, que parece colada ao que fazemos e ao cargo que exercemos.


Mas essa simbiose sempre esteve presente. O que se intensifica é a notoriedade e o status que ganhamos, ou não, com o que somos profissionalmente.


Vivemos um tempo em que acreditamos que nossa atividade laboral é a nossa essência. As “vantagens” que essa remuneração e status apresentam é um potente poder de consumo. Quanto mais ganhamos, mais gastamos e os bens duráveis são substituídos por novos itens, que a sociedade de consumo nos imputa como necessários para a manutenção de nossa identidade.


Esse circulo vicioso traga nosso precioso tempo, outrora marcado pelos ritmos da natureza. Nosso relógio badala pelos ritmos culturais, de um tempo artificialmente acelerado pela modernidade.


Homem, algoz de si mesmo, afastado da própria essência da vida? Mas qual é essência da vida? Qual sua aparência?


Que possamos ressignificar nossas atividades laborais de modo a sermos mais senhores de nossas escolhas, em um futuro próximo!


Abração

Ana Wey

 

Ana Wey, mudou-se para Bangkok com o marido e os filhos em agosto de 2019 depois de passar uns anos no Vietnã. Ana tem pós graduação em Educação Infantil e atualmente cursa MBA em Educação. Ela é especializada na alfabetização da Língua Portuguesa para crianças e adultos.

Além disso tem como paixão a culinária, a leitura e uma sede de aprender coisas novas que a faz estar sempre em busca de novos desafios.


Membro da BTCC Social desde 2020



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