Interculturalidade: Pra que te quero
- Ana Wey
- 2 de jul.
- 4 min de leitura

O tema interculturalidade, parece algo contemporâneo, mas na verdade, os intercâmbios culturais entre sociedades, com suas múltiplas trocas e interações é bastante antigo.
Podemos dizer que o processo de colonização favoreceu esse cenário, mas a história é mais remota, podendo citar como exemplo a cultura greco-romana, em que aspectos de ambas as culturas se entrelaçaram. A diversidade cultural, no entanto, passa a ser de fato foco de interesse de cientistas sociais e políticos, segundo Luciana de Vasconcelos, através do processo de descolonização ocorrido na África, América Latina e Ásia, com o fluxo de emigrantes vindos de ex-colônias para o continente europeu.
Esse movimento migratório teve seu ápice nas décadas finais do século XX e provocou uma transformação demográfica intensa em diversos países, rompendo com os padrões do que seria o seguramente controlado, passando a ter o “o outro” como parte de sua comunidade, da vida social e cultural.
Esse outro que passava a frequentar os espaços públicos, viver entranhado nos bairros, ter uma vida social, trabalhar; comunicando-se através do uso de outras línguas, traria uma bagagem de vida e valores morais distintos, que poderiam ser contraditórios e até se chocarem através de temáticas como a família, a monogamia, a questão de gênero, entre outas. O estranho, trouxe em sua pluridiversidade a promoção de uma riqueza cultural, nem sempre harmoniosa.
Os conflitos, em alguns cenários, se fizeram marcantes, visto que não é simples ou veloz, o processo de se reconhecer, valorizar a multiplicidade de experiências, identidades e culturas, abrangendo grupos que nem sempre tem visibilidade. Esse estrangeiro está agora em toda a parte do globo!
Neste contexto global, a pluridiversidade está também relacionada com a ideia de termos diversas pessoas e coisas em um mesmo espaco físico, bem como suas muitas hipóteses para solucionar situações, vislumbrando uma pluralidade de alternativas.
Conceitualmente, a interculturalidade, dá um salto ao visar promover uma convivência harmoniosa e democrática entre culturas, com toda sua potente diversidade. Diferentemente da pluridiversidade e da multiculturalidade, que indica a coexistência de grupos culturais diversos, a interculturalidade aponta para uma politica de convivência, segundo Fleuri.
Na contemporaneidade, o mundo globalizado e um mercado mundial em plena atuação, os fluxos de interação e as trocas diminuem as fronteiras. Os avanços tecnológicos, também vem permitindo uma abundância de contatos e ideias favorecendo uma interação intercultural. Estamos vivendo o paradoxo do mundo globalizado, com suas tendências mercadológicas e ideológicas bem como a fragmentação do planeta, com suas inúmeras diversidades culturais. O que certamente aponta necessidade de diálogo, de afinada comunicação, que ultrapasse a barreira cultural. Se por um lado, segundo Milton Santos, a globalização defende a ideia de se homogeneizar o planeta (em um sentido positivo) para se criar uma cidadania universal, o culto desenfreado ao consumo nos distancia desse desejo, elitizando as camadas mais favorecidas.
Segundo Vygotsky, somos seres históricos, culturais e sociais. O que nos faz ser quem somos é a conexão entre esses três elementos. De acordo com o tempo em que vivemos (ser cidadão europeu em 1900, por exemplo, era bastante distinto do que sê-lo no século XXI) da sociedade ao qual fazemos parte e da cultura, em que crenças, valores, costumes e práticas são compartilhados por um determinado grupo social, evidenciando modos de vida e a expressão de um determinado povo.
Esses elementos culturais podem ser tangíveis ou intangíveis e se referem aos modos como determinado grupo ou classe; exprime, define, interpreta e significa suas condições de existência.
A hibridação, termo utilizado para traduzir os processos derivados da interculturalidade,é um conceito importado da química, que se refere a combinação de diferentes elementos para se criar algo mais novo e eficaz. Esses processos não seriam apenas as fusões raciais, mas também misturas modernas como o artesanal com o industrial, o culto com o popular, o escrito com o visual, bem como outros diversos processos combinatórios.
Mas o que quer dizer interculturalidade na prática?
Bem, em linhas gerais seria enfrentar o desafio constante de desenvolver o pensamento crítico, suspender qualquer tipo de julgamento de valor e estar aberto às curiosidades e mudanças. Conviver com diferentes culturas, estar imerso em eventos, festividades, palestras e atividades em geral, que tenham a diferentes contribuições, são manifestações de interculturalidade; que também pode ser vista e sentida no modo de vestir, na comida que se aprecia, na música, na arte e no modo como falamos.
Interculturalidade, pluridiversidade, multiculturalidade: os conceitos se entrelaçam na busca por compreensão do mundo, de nossas identidades culturais e no desejo latente de uma convivência mais harmoniosa, que traga benefícios locais, globais e para o planeta.
Interculturalidade: te queremos para sermos melhores para nós, para nossa comunidade e para o mundo!

Ana Wey, mudou-se para Bangkok com o marido e os filhos em agosto de 2019 depois de passar uns anos no Vietnã. Ana tem pós graduação em Educação Infantil e atualmente cursa MBA em Educação. Ela é especializada na alfabetização da Língua Portuguesa para crianças e adultos.
Além disso tem como paixão a culinária, a leitura e uma sede de aprender coisas novas que a faz estar sempre em busca de novos desafios.
Membro da BTCC Social desde 2020
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