Similaridades daqui e daí
- Ana Wey

- 26 de out.
- 5 min de leitura

Foto do Wix
Recentemente recebi em casa, um casal de amigos maravilhosos; biólogos, apaixonados pela diversidade da fauna e flora mundial, que elegeram a Tailândia como destino de férias anual. Foram dias de sol, chuva, praia, templos, de calças de elefante, museus e oportunidade de se aproximar de uma cultura tão diversa, porém, com muitas aproximações de nossa brasilidade.
Ao longo da viagem foram se sentindo em casa, a receptividade do tailandês, o povo da terra do sorriso, tão parecido com a prestatividade e simpatia do brasileiro, mostraram similaridades entre os dois povos. Mas será que temos mesmo uma boa lista de elementos convergentes?
Para começar esse bate bola, vamos elucidar as praias, que tanto aqui como lá são, em sua maioria, maravilhosas. Desde as mais reservadas, como Koh Lipe, até as mais populares como as ilhas Phi Phi. A verdade é que sendo o assunto ilha, brasileiros e tailandeses, não tem do que se queixar. Fernando de Noronha e Ilha Grande que o digam.
Importante salientar que quando falamos de praias, sempre puxamos o assunto do clima, não é mesmo? Pois bem, ambos os países tem clima e vegetação similares, pois estão próximos à linha do Equador (norte do Brasil!), onde o calor é constante, com temperaturas próximas aos 40 graus, com uma vegetação bastante diversa.
Outro aspecto que nos aproxima é a ampla variedade de frutas existentes nos dois países. Por aqui temos lichia, longan, rabutão, mangostão, tamarindo, fruta do dragão, manga e a famosíssima “jack fruit”, ou durião, abundantemente consumida. Uma versão da nossa jaca, que de tão perfumada, não pode entrar em hotéis ou aviões!
Tão popular entre os tailandeses que, apesar da temporada ser de abril a agosto, é possível encontrá-la o ano todo; em bolos, bolachinhas, sucos, chips, sorvetes e até no café!
A popular manga é o carro chefe de uma das mais famosas sobremesas tailandesas, o “mango stickyrice”, que se pode provar nas barraquinhas de rua em versões simplificadas ou mais elaboradas, em sofisticados restaurantes Michelin Star.
Pelo Brasil temos açaí, caju, goiaba, jabuticaba, araçá, biribá, cambuci, mangaba, pitanga, tucumā, uvaia e segue a lista...
E claro, o cafezinho de todo dia, que é produzido desde a década de 70, nas versões arábica e robusta, nas regiões montanhosas da região norte, particularmente em Chiang Mai e Chiang Rai. Já pelo Brasil, as mesmas versões de café, também são cultivadas em regiões de maior altitude e clima mais ameno. No Brasil, as lavouras de café ocupam lugar de destaque no ranking das principais culturas agrícolas. A Tailândia, embora não se encontre entre os 3 maiores produtores mundiais de café, é um mercado em ascensão para cafeterias de alta qualidade.
Outro ponto que nos aproxima são as celebrações. As tradicionais festas brasileiras, como o Carnaval e a Festa Junina, que mobilizam intensamente diferentes regiões do país, com universos culturais e sociais próprios, podem ser comparadas com a alegria e euforia do ano novo tailandês, conhecido como Songkran. São três dias de festa, com muitas brincadeiras e água por todo lado, que além de amenizar o intenso calor do mês de abril, purificam e trazem limpeza para o próximo ano. Lembrando-nos os brasileiros, que pulam as 7 ondas na virada do ano novo, oferecendo flores para Iemanjá, de acordo com a fé e crença de cada um.
A maioria da população dos dois países, segue como religião o cristianismo e o budismo. Ambos os países praticam fortemente suas tradições, com datas comemorativas e rituais realizados em igrejas ou templos. Apesar das religiões serem bastante distintas, a influência cultural e na própria estrutural social, influenciada pela religiosidade, é bastante notória tanto no Brasil, como na Tailândia.
Temos também uma aproximação bastante forte no que tange a diversão. Nós brasileiros e os tailandeses, adoramos estar reunidos com amigos, bebericando e apreciando uma boa música ao vivo. O amor pelos caraoquês, também tem influenciado a nossa brasilidade!
Os drinks, no entanto, como não poderiam deixar de ser, são apimentados. Mas a caipirinha é degustada em alguns retiros. Eles assim como nós, apreciam uma boa cervejinha no happy hour!
No que tange a culinária especificamente, ambos os países possuem influencias externas. A Tailândia, foi fortemente influenciada pela Índia, China, Malásia e até pelos portugueses, que introduziram por aqui alguns alimentos, além de ensinarem seus molhos e guisados ao povo tailandês. Todas essas influências, deram lugar a uma rica diversidade de sabores; doce, salgado, ácido, amargo e apimentado, que é tão apreciada mundo à fora.
Em relação ao Brasil, sabe-se que a culinária brasileira é o resultado da fusão das culturas indígenas, africana, portuguesa e posteriormente de italianos, espanhóis e alemães. Os ovos como base de preparo de molhos e sobremesas, no entanto, foram popularizados em ambos os países, por Portugal.
O número de brasileiros que visita anualmente a Tailândia é expressivo. O povo tailandês, apaixonado por futebol, vibra quando se depara com um brasileiro, podendo expressar que conhecem alguns de nossos craques. Outra paixão que dividimos! Apesar no número de turistas brasileiros na Tailândia ser numeroso, a quantidade de brasileiros que mora no país, não é expressiva. O mesmo acontece no Brasil. No entanto, quando nos deparamos com cidadãos Thai, que imigraram para nosso país, é uma surpresa agradável. Os restaurantes tailandeses, por exemplo, espalhados em especial na região sudeste do Brasil, são bastante populares e agradam o paladar do brasileiro.
Recentemente uma chef de cozinha Thai, mostrou seus talentos no Master Chef. A tailandesa Yukontorn Tappabutt angariou um significativo número de seguidores no Instagram, com postagens em que um pouco da cultura do país, é apresentada através da culinária asiática. Elucidando também, que é possível encontrar produtos tailandeses, nos Empórios São Paulo e Daruma na grande São Paulo. Com criatividade, competência e simpatia, a chef vem popularizando o sabor tailandês no Brasil.
Meus amigos que cá estiveram, não passaram nenhuma vontade, exceto, até onde eu sei, de provar carne de jacaré, que curtida na água, debaixo das torrenciais temperaturas de março e abril, era na verdade um minestrone de “bactérias do mau” que, nem toda a pimenta tailandesa exterminaria. Apesar do incomestível jacaré, fizeram a maior parte das refeições aproveitando o nosso mundialmente conhecido street food, simplesmente adoraram todas as iguarias.
No Brasil, especialmente em cidades como Mato Grosso, também é possível provar esse prato exótico. Quem sabe ousarão provar por lá, um jacarezinho na brasa. Criado em cativeiro, antes que meus amigos biólogos se espantem!
Antes de regressarem ao nosso Brasil, decidiram, movidos de um restinho de euforia, fazerem uma tatuagem tipicamente Thai. Tatuar-se aqui, para “os tatus maníacos”, como eu, é uma aventura, que vai da técnica peculiar até os símbolos que, em geral representam proteção. Lembrando que a imagem de Buda, é um atributo de fé e não se incentiva tatuá-la, uma vez que a religião budista cunhou esse país.
Por fim, cabe lembrar que a Tailândia é um país repleto de superstições, assim como no Brasil. Mais um entre tantos aspectos que aproximam o Brasil, desse pedacinho tão especial, do sudeste asiático.
Mas o que mais temos em comum?
Engrosse daí a lista!

Ana Wey, mudou-se para Bangkok com o marido e os filhos em agosto de 2019 depois de passar uns anos no Vietnã. Ana tem pós graduação em Educação Infantil e atualmente cursa MBA em Educação. Ela é especializada na alfabetização da Língua Portuguesa para crianças e adultos.
Além disso tem como paixão a culinária, a leitura e uma sede de aprender coisas novas que a faz estar sempre em busca de novos desafios.
Membro da BTCC Social desde 2020










Comentários