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Raízes sem fronteiras


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A icônica Embaixada de Portugal em Bangkok - foto de Afonso Duarte


A interculturalidade é um legado de séculos de relações diplomáticas, sociais, comerciais e culturais. Desde sempre houve um interesse e fascínio pelo outro, perante a sua diversidade de crenças, costumes e pensamentos. O contacto com o estranho traz-nos experiências e, por vezes, deixam uma marca profunda. As influências do desconhecido embrenham-se de uma forma quase impercetível. O que foi variando, ao longo dos anos, foi a visão de quem parte rumo a novos lugares e de quem acolhe pessoas de países estrangeiros. Desde a curiosidade e amizade ao estranhamento e hostilidade, assistimos, em tempos hodiernos, a um leque inesgotável de comportamentos perante o incomum. O que é distinto daquilo que conhecemos, tanto pode ser incómodo como estimuloso, mas obriga-nos sempre sair da nossa zona de conforto.


Sair de um país, onde nos sentimos em “casa”, é sempre um ato de coragem e esperança, mesmo que se desenrole num cenário de desespero. Os novos destinos que escolhemos, nem sempre são validados por razões económicas ou profissionais. Muitas vezes, seguimos uma busca inconsciente, que esperamos explorar e perseguir num lugar desconhecido e menos óbvio.

Para trás, fica o país de origem, que passa a ser um lugar não físico dentro do país de acolhimento. É surpreendente encontrar em Portugal uma comunidade tailandesa, que tem vindo a crescer significativamente, sobretudo na região do Alentejo e Algarve. As relações luso-siamesas são das mais antigas entre países europeus e do sudeste asiático e sempre serviram para tecer laços comerciais, culturais e militares.


Em 2011, celebraram-se 500 anos de relações diplomáticas entre ambos os países e, em 2018, foi assinado um pacto de amizade e comércio. Desde então, o vínculo tem vindo a evoluir, dando origem a iniciativas recentes entre a Embaixada de Portugal e a Siam Society, para fortalecer os laços culturais e aprofundar a colaboração bilateral.


Por ocasião dos 500 anos de relações diplomáticas, em 2012, a princesa Sirindhorn inaugurou um pavilhão tradicional siamês, o “Sala Thai”, em Lisboa. A estrutura foi construída em Bangkok e transportada por navio para Lisboa, mareando pela mesma rota histórica que havia sido navegada pelos Portugueses há 500 anos atrás.


A presença da Tailândia em Portugal é bastante diversificada. Além da representação pela Embaixada Real da Tailândia, são promovidos o turismo, através da organização governamental Turismo da Tailândia (TAT), e a organização de eventos culturais, como a gastronomia e as artes tailandesas. Aditivamente, é proporcionada a colaboração com universidades e outras instituições portuguesas em diversas áreas, como a educação e a cultura. Eventos como a Muay Thai Masterclass 2025 na Universidade de Lisboa são prova desse esforço.


Embora ainda com um número tímido de pessoas, a comunidade tailandesa é bastante ativa, centrando as suas atividades em eventos culturais, gastronómicos e de apoio social. A Embaixada da Tailândia apoia estas iniciativas, reforçando a divulgação da cultura tailandesa e o bem-estar dos imigrantes.


Todos os anos, o Jardim de Belém acolhe um festival cultural tailandês, que conta com demonstrações de Muay Thai, gastronomia, massagens e várias atividades culturais. A comunidade reúne-se também para celebrar datas importantes, como o Songkran e outras cerimónias religiosas, contando ainda com uma Associação Luso Tailandesa, ligada à promoção de eventos culturais e desportivos e uma parte dedicada a conteúdos filantrópicos e à solidariedade social.


Com efeito, a nossa “terra” é mais do que uma palavra, suscita memórias, é a sensação de sermos compreendidXs pelas pessoas ao nosso redor, um sentido de pertença, identidade e ligação cultural enraizados num lugar ou espaço. Não é necessário ter nascido no local onde temos as nossas raízes, pois não se trata necessariamente de um local físico. É um espaço onde sentimos familiaridade, conforto e histórias partilhadas. Acerca desta idealização, o filósofo alemão, Ernst Bloch, discorre que a terra natal é um conceito romantizado, idealizado e associado a uma certa nostalgia, não é um local, mas uma perspetiva que deve ser conquistada. A nossa casa ou terra natal não se encontra em nenhum mapa, é algo que brilha na infância de cada um de nós e onde, até agora, ninguém esteve. Para as comunidades estrangeiras em cada país, a ideia do lugar ao qual pertencemos, será antes uma terra onde o regresso e a partida podem coexistir e estabelecer uma nova perceção do conceito “casa” e novas práticas de formar raízes.


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Cristina Lousa Borges

Natural de Lisboa. É membro da BTCC Social e contribui com a Aquarela, trazendo informações e curiosidades do mundo da cultura. É também artesã de joalharia contemporânea.

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