Muito obrigada pela oportunidade de contar um pouco da história da Associação Brasileira, que de muitas maneiras reflete a minha própria história aqui na Tailândia. Mudei-me para a Tailândia com meu marido e filha mais velha, Natalie, em 1988, depois de morar nos EUA por quase uma década. Se você quiser saber como era Bangkok há 28 anos, você deve imaginar uma cidade sem BTS e até mesmo sem rodovias expressas elevadas. Se poder acreditar, o tráfego era pior do que é hoje. As ruas eram cheias de carros e ônibus muito velhos soltando fumaça preta, de modo que a poluição também era pior. O edifício mais alto era o Dusit Thani Hotel. Não havia café decente, uma situação drástica para um brasileiro. Os bolos e o pão eram horríveis e qualquer comida ocidental tinha o sabor distinto de margarina. Boa maneira de se adaptar rapidamente à comida tailandesa. Os banheiros! Nem se fale! Você só encontrar sanitarios tipo oriental onde e necessario se acocorar ate mesmo na maioria dos shopping centers. Apenas os principais hotéis e o Central da Chitlom tinham algumas bancas com banheiros do nosso estilo ocidentais. Mas isso não é tudo. Não havia sabão ou toalhas de papel nos banheiros públicos, então você tinha que carregá-lo na bolsa onde quer que fosse. Eu estava grávida do meu segundo filho, então os cheiros em todos os lugares eram esmagadores.
Fomos morar perto do aeroporto de Donmuang e eu não conhecia nenhum brasileiro. Entrei para a igreja evangélica na Sukhumvit soi 10 e meu principal grupo de apoio veio de outras mulheres estrangeiras casadas com homens tailandeses que conheci na igreja. Passei por todas as dificuldades de adaptação que todos vocês experimentaram com a complicação adicional da família do meu marido. Eles foram muito amaveis e tentaram se adaptar a sua nora farang.
Mais tarde, meu marido e eu compramos um apartamento na Asoke Rd e nos mudamos para o centro. Que dia feliz foi esse. Foi quando conheci outras famílias brasileiras. Você deve se lembrar que isso era anterior aos telefones celulares e à Internet. Havia apenas alguns de nós. Cerca de 8 famílias, mas começamos a nos reunir para um almoço mensal.
E assim nasceu a Associação Brasileira na Tailândia: um pequeno grupo de mulheres brasileiras que queriam se reunir e apreciar sua cultura única. Desde o início, o grupo era muito ativo, dinâmico, acolhedor e, acima de tudo, era um pedacinho do Brasil em Bangkok. Nosso objetivo era dar assistência, apoio, amizade e ajudar os recém-chegados a se adaptarem a essa cultura tao diferente e canalizar suas energias. Muitas mulheres brasileiras chegavam aqui incapazes de falar inglês, o que dificultava ainda mais sua adaptação. Por muitos anos, nosso almoço mensal ocorreu nas nossas proprias casas. À medida que o grupo foi crescendo, adotamos o sistema potluck, onde cada pessoa trazia um prato para compartilhar.
Foi quando as duas famosos Cidas se mudaram para Bangkok. Maria Aparecida Molle e Maria Aparecida Terlon. Ambas casados com homens franceses. Alguns de vocês podem se lembrar deles quando começaram o famoso Carnaval Brasileiro em Bangkok.
As duas Cidas tinham uma grande paixão por tudo o que é brasileiro: sua cultura, folclore, arte, música e tradições. Com a chegada delas, uma nova era foi iniciada na história da associação. Eventos foram organizados para a comunidade. Desde o café da manhã tradicional em um ambiente de jardim; festas juninas; festas do dia das crianças; feijoada e, claro, o carnaval.
Para mim, em minha situação única de morar aqui permanentemente e não poder viajar para o Brasil com a mesma frequência do expat tradicional, a associação brasileira foi extremamente importante, permitindo-me expor a meus filhos a singularidade da cultura brasileira e de seu povo.
Nosso primeiro carnaval aconteceu no restaurante da Aliança Francesa em 1995. Foi um evento pequeno com 50 convidados, mas tinha todos os ingredientes que você espera de um carnaval brasileiro - música, roupas coloridas, decorações bonitas e pessoas divertidas.
Em 2005, um de nossos membros que era jornalista nos incentivou a formar uma associação propria com um comitê, presidente, etc. Eu me tornei a primeira presidente da ABT. Um cargo que ocupei por um ano. O entusiasmo do grupo era contagioso e havia muitas idéias sobre o que poderia ser feito. Começamos um website e um boletim informativo. Foram organizados eventos, iniciamos um clube do livro, estudos bíblicos, jogos infantis, cursos de culinária, além de 3 grandes eventos para toda a comunidade por ano. O número de brasileiros que viviam na Tailândia na época era apenas 200 pessoas.
Nosso próximo presidente foi Odalea Novais. Ela serviu com muito entusiasmo e dedicação. Naqueles primeiros anos como associação, estávamos definindo as regras, verificando o que era possível e o que não valia a pena, e a associação prosperou e se tornou conhecida entre os outros grupos de mulheres e associacoes internacionais em Bangcoc. Nosso objetivo de ajudar as novas famílias estava sendo cumprido.
Depois da Odalea, a associação foi presidida por Naira Mortareli, que levou o carnaval brasileiro a novos patamares. Hoje, o carnaval brasileiro anual é uma das festas mais esperadas do calendário de Bangcoc. É um baile à fantasia com jantar, shows com dançarinos brasileiros usando trajes elaborados e entusiasmo contagioso. Os convidados também usam fantasias e até competem entre si pelo melhor e mais original traje.
Em 2012, o Carnaval se tornou um evento de caridade e optamos por doar as receitas para um programa liderado pela American Womens Club Scholarship for Girls. Nesse ano, conseguimos arrecadar 300.000 baht, o que permitiu que 50 estudantes continuassem seus estudos no ensino médio.
De 2013 a 2015, os ingressos para o Carnaval foi esgotado semanas antes do dia da festa e 360.000 baht foram arrecadados a cada ano, dando um total de 60 bolsas de estudos por ano.
Em 2016, dividimos as receitas entre o programa de bolsas do AWC e o grupo de apoio ao câncer de mama. Nosso presidente este ano é Zelita Rodrigues, que fez um excelente trabalho ao continuar essa tradição.
Em 2018 Karine Morais assumiu a presidencia e sua energia e entusiasmo trouxeram a presidencia uma vontade de mudança, de crescimento e muita dedicação ao carnaval de 2019.
Somos um número muito pequeno em comparação com as outras nacionalidades representadas aqui na Tâilandia hoje. Nossa associação tem menos de 50 membros no momento, mas apesar do pequeno número, conseguimos arrecadar mais de 1,5 milhão de baht para caridade e ajudamos nossa comunidade a sentir que existe um pedacinho do Brasil na terra dos sorrisos. Obrigado.
Ana Lucia Lasavanich
Conselheira e Membro da BTCC Social
Ana Lucia Lasavanich.
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